domingo, 8 de fevereiro de 2015

EPÍSTOLA DE SÃO PAULO AOS GÁLATAS



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Paulo, apóstolo — não da parte dos homens nem por intermédio de um homem, mas por Jesus Cristo e Deus Pai que o ressuscitou dentre os mortos — e todos os irmãos que estão comigo, às Igrejas da Galácia. Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados a fim de nos livrar do presente mundo mau, segundo a vontade do nosso Deus e Pai, a quem a glória pelos séculos dos séculos! Amém. 

Admiro-me que tão depressa abandoneis aquele que vos chamou pela graça de Cristo, e passeis a outro evangelho. Não que haja outro, mas há alguns que vos estão perturbando, e querendo corromper o Evangelho de Cristo. Entretanto, se alguém — ainda que nós mesmos ou um anjo do céu — vos anunciar um evangelho diferente do que vos anunciamos, seja anátema. Como já vo-lo dissemos, volto a dizê-lo agora: se alguém vos anunciar um evangelho diferente do que recebestes, seja anátema. É porventura o favor dos homens que agora eu busco, ou o favor de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se eu quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo. 

Com efeito, eu vos faço saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, pois eu não o recebi nem aprendi de algum homem, mas por revelação de Jesus Cristo. Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus e como progredia no judaísmo mais do que muitos compatriotas da minha idade, distinguindo- me no zelo pelas tradições paternas. Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue, nem subi a Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia, e voltei novamente a Damasco. Em seguida, após três anos, subi a Jerusalém para me avistar com Cefas e fiquei com ele quinze dias. Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor. Isto vos escrevo e vos asseguro diante de Deus que não minto. Em seguida, fui às regiões da Síria e da Cilícia. De modo que, pessoalmente, eu era desconhecido às Igrejas da Judeia que estão em Cristo. Apenas ouviam dizer: quem outrora nos perseguia agora evangeliza a fé que antes devastava, e por minha causa glorificavam a Deus. 

Em seguida, catorze anos mais tarde, subi novamente a Jerusalém com Barnabé, tendo tomado comigo também Tito. Subi em virtude de uma revelação e expus-lhes — em forma reservada aos notáveis — o evangelho que prego entre os gentios, a fim de não correr, nem ter corrido em vão. Ora, nem Tito, que estava comigo, e que era grego, foi obrigado a circuncidar-se. Mas por causa dos intrusos, esses falsos irmãos que se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzir à escravidão, aos quais não cedemos sequer um instante, por deferência, para que a verdade do evangelho fosse preservada para vós. E por parte dos que eram tidos por notáveis — o que na realidade eles fossem não me interessa; Deus não faz acepção de pessoas — de qualquer forma, os notáveis nada me acrescentaram. Pelo contrário, vendo que a mim fora confiado o evangelho dos incircuncisos como a Pedro o dos circuncisos — pois aquele que estava operando em Pedro para a missão dos circuncisos operou também em mim em favor dos gentios — e conhecendo a graça em mim concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis tidos como colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão: nós pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão. Nós só nos devíamos lembrar dos pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude. 

Mas quando Cefas veio a Antioquia, eu o enfrentei abertamente, porque ele tinha-se tornado digno de censura. Com efeito, antes de chegarem alguns vindos da parte de Tiago, ele comia com os gentios, mas, quando chegaram, ele se subtraía e andava retraído, com medo dos circuncisos. Os outros judeus começaram também a fingir junto com ele, a tal ponto que até Barnabé se deixou levar pela sua hipocrisia. Mas quando vi que não andavam rectamente segundo a verdade do evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: se tu, sendo judeu, vives à maneira dos gentios e não dos judeus, por que forças os gentios a viverem como judeus?

Nós somos judeus de nascimento e não pecadores da gentilidade; sabendo, entretanto, que o homem não se justifica pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei, porque pelas obras da Lei ninguém será justificado. E se, procurando ser justificados em Cristo, nós também nos revelamos pecadores, não seria então Cristo ministro do pecado? De modo algum! Se volto a edificar o que destruí, então sim eu me demonstro um transgressor. De facto, pela Lei eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim. Não invalido a graça de Deus; porque, se é pela Lei que vem a justiça, então Cristo morreu em vão. 

Ó gálatas insensatos, quem vos fascinou, a vós ante cujos olhos foi desenhada a imagem de Jesus Cristo crucificado? Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela adesão à fé? Sois tão insensatos que, tendo começado com o espírito, agora acabais na carne? Foi em vão que experimentastes tão grandes coisas? Se é que foi em vão! Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós o faz pelas obras da Lei ou pela adesão à fé? 

Foi assim que Abraão creu em Deus e isto lhe foi levado em conta de justiça. Sabei, portanto, que os que são pela fé são filhos de Abraão. Prevendo que Deus justificaria os gentios pela fé, a Escritura preanunciou a Abraão esta boa nova: Em ti serão abençoadas todas as nações. De modo que os que são pela fé são abençoados juntamente com Abraão, que teve fé. E os que são pelas obras da Lei, esses estão debaixo de maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que não se atém a todas as prescrições que estão no livro da Lei para serem praticadas. E que pela Lei ninguém se justifica diante de Deus é evidente, pois o justo viverá pela fé. Ora, a Lei não é pela fé, mas: quem pratica essas coisas por elas viverá. Cristo nos remiu da maldição da Lei tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro, a fim de que a bênção de Abraão em Cristo Jesus se estenda aos gentios, e para que, pela fé, recebamos o Espírito prometido. 

Irmãos, falo como homem: mesmo um testamento humano, legitimamente feito, ninguém o pode invalidar nem modificar. Ora, as promessas foram asseguradas a Abraão e à sua descendência. Não diz: "e aos descendentes", como referindo-se a muitos, mas como a um só: e à tua descendência, que é Cristo. Ora, eu digo: uma Lei vinda quatrocentos e trinta anos depois não invalida um testamento anterior, legitimamente feito por Deus, de modo a tornar nula a promessa. Porque se a herança vem pela Lei, já não é pela promessa. Ora, é pela promessa que Deus agraciou a Abraão. 

Por que, então, a Lei? Foi acrescentada em vista das transgressões — até que viesse a descendência, a quem fora feita a promessa — promulgada por anjos, pela mão de um mediador. Ora, não existe mediador quando se trata de um só, e Deus é um só. Então a Lei é contra as promessas de Deus? De modo algum! Se tivesse sido dada uma lei capaz de comunicar a vida, então sim, realmente a justiça viria da Lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, a fim de que a promessa, pela fé em Jesus Cristo, fosse concedida aos que crêem.

Antes que chegasse a fé, nós éramos guardados sob a tutela da Lei para a fé que haveria de se revelar. Assim a Lei tornou-se nosso pedagogo até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Chegada, porém, a fé, não estamos mais sob pedagogo; vós todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós, que fostes baptizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus. E se vós sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa. 

Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de um escravo. Ele fica debaixo de tutores e curadores até à data estabelecida pelo pai. Assim também nós, quando éramos menores, estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo dos elementos do mundo. Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adopção filial. E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! De modo que já não és escravo, mas filho. E se és filho, és também herdeiro, graças a Deus. Outrora, é verdade, não conhecendo a Deus, servistes a deuses, que na realidade não o são. Mas agora, conhecendo Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível voltardes novamente a estes fracos e miseráveis elementos aos quais vos quereis escravizar outra vez? Observais cuidadosamente dias, meses, estações, anos! Receio ter-me afadigado em vão por vós. 

Eu vos suplico, irmãos, que vos torneis como eu, pois eu também me tornei como vós. Em nada me ofendestes. Bem o sabeis, foi por causa de uma doença que eu vos evangelizei pela primeira vez. E vós não mostrastes desprezo nem desgosto, em face da vossa provação na minha carne; pelo contrário, me recebestes como um anjo de Deus, como Cristo Jesus. Onde estão agora as vossas felicitações? Pois eu vos testemunho que, se vos fosse possível, teríeis arrancado os olhos para dá-los a mim. Então, dizendo-vos a verdade, eu me tornei vosso inimigo? Não é para o bem que eles vos cortejam. O que querem é separar-vos de mim para que vós os cortejeis a eles. É bom ser cortejado para o bem sempre, e não só quando estou presente entre vós, meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós. Quisera estar no meio de vós agora e mudar o tom da voz, pois não sei que atitude tomar a vosso respeito. 

Dizei-me, vós que quereis estar debaixo da Lei, não ouvis vós a Lei? Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da serva e outro da livre. Mas o da serva nasceu segundo a carne; o da livre, em virtude da promessa. Isto foi dito em alegoria. Elas, com efeito, são as duas alianças; uma, a do monte Sinai, gerando para a escravidão: é Agar (porque o Sinai está na Arábia), e ela corresponde à Jerusalém de agora, que de facto é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre e esta é a nossa mãe, segundo está escrito: Alegra-te, estéril, que não davas à luz, Põe-te a gritar de alegria, tu que não conheceste as dores do parto, porque mais numerosos são os filhos da abandonada do que os daquela que tem marido. Ora, vós, irmãos, como Isaac, sois filhos da promessa. Mas como então o nascido segundo a carne perseguia o nascido segundo o espírito, assim também agora. Mas que diz a Escritura? Expulsa a serva e o filho dela, pois o filho da serva não herdará com o filho da livre. Portanto, irmãos, não somos filhos de uma serva, mas da livre.

É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão. Atenção! Eu, Paulo, vos digo: se vos fizerdes circuncidar, Cristo de nada vos servirá. Declaro de novo a todo o homem que se faz circuncidar: ele está obrigado a observar toda a Lei. Rompestes com Cristo, vós que buscais a justiça na Lei; caístes fora da graça. Nós, com efeito, aguardamos, no Espírito, a esperança da justiça que vem da fé. Pois, em Cristo Jesus, nem a circuncisão tem valor, nem a incircuncisão, mas a fé agindo pela caridade. Corríeis bem; quem vos pôs obstáculos para não obedecerdes à verdade? Esta sugestão não vem daquele que vos chama. Um pouco de fermento leveda toda a massa. Eu confio em vós no Senhor que vós não pensais diversamente. Aquele, porém, que vos perturba sofrerá a condenação, seja lá quem for. Quanto a mim, irmãos, se eu ainda prego a circuncisão, por que sou ainda perseguido? Pois estaria eliminado o escândalo da cruz! Que se façam mutilar de uma vez aqueles que vos inquietam! 

Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros. Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Mas se vos mordeis e vos devorais reciprocamente, cuidado, não aconteça que vos elimineis uns aos outros. Ora, eu vos digo, conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Pois a carne tem aspirações contrárias ao espírito e o espírito contrárias à carne. Eles se opõem reciprocamente, de sorte que não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei. Pois os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta. Não sejamos cobiçosos de vanglória, provocando-nos uns aos outros e invejando-nos uns aos outros.

Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado. Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo. Se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. Que cada um examine a sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si só e não por referência ao outro. Porque cada qual carregará o seu próprio fardo. Quem está sendo instruído na palavra, torne participante em toda sorte de bens aquele que o instrui. Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna. Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos. Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas sobretudo para com os irmãos na fé. 

Vede com que letras grandes eu vos escrevo, de próprio punho. Os que querem fazer boa figura na carne são os que vos forçam a vos circuncidardes, só para não sofrerem perseguição por causa da cruz de Cristo. Pois nem mesmo os que se fazem circuncidar observam a lei. Mas eles querem que vos circuncideis para se gloriarem na vossa carne. Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. De resto, nem a circuncisão é alguma coisa, nem a incircuncisão, mas a nova criatura. E a todos os que pautam a sua conduta por esta norma, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus. Doravante ninguém mais me moleste. Pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus. Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com vosso espírito! Amém. 


JOSÉ MARIA ALVES
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