Livro da origem de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão: Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacob, Jacob gerou Judá e seus irmãos, Judá gerou Farés e Zara, de Tamar, Farés gerou Esrom, Esrom gerou Aram, Aram gerou Aminadab, Aminadab gerou Naasson, Naasson gerou Salmon, Salmon gerou Booz, de Raab, Booz gerou Jobed, de Rute, Jobed gerou Jessé, Jessé gerou o rei David. David gerou Salomão, daquela que foi mulher de Urias, Salomão gerou Roboão, Roboão gerou Abias, Abias gerou Asa, Asa gerou Josafá, Josafá gerou Jorão, Jorão gerou Ozias, Ozias gerou Joatão, Joatão gerou Acaz, Acaz gerou Ezequias, Ezequias gerou Manassés, Manassés gerou Amon. Amon gerou Josias, Josias gerou Jeconias e seus irmãos por ocasião do exílio na Babilónia. Depois do exílio na Babilónia, Jeconias gerou Salatiel, Salatiel gerou Zorobabel, Zorobabel gerou Abiud, Abiud gerou Eliacim, Eliacim gerou Azor, Azor gerou Sadoc, Sadoc gerou Aquim, Aquim gerou Eliud, Eliud gerou Eleazar, Eleazar gerou Matã, Matã gerou Jacob, Jacob gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo. Portanto, o total das gerações é: de Abraão até David, catorze gerações; de David até ao exílio na Babilónia, catorze gerações; e do exílio na Babilónia até Cristo, catorze gerações.
A origem de Jesus Cristo foi como se narra: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não a querendo denunciar publicamente, resolveu repudiá-la em segredo. Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor se lhe manifestou em sonho, dizendo: "José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados". Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta: - Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: "Deus está connosco". José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa a sua mulher. Mas não a conheceu até ao dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus.
Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: "Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo". Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Eles responderam: "Em Belém da Judeia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: - E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo". Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: "Ide e procurai obter informações exactas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que também eu vá homenageá-lo". A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela, alegraram- se imensamente. Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região.
Após a sua partida, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se em sonho a José e lhe disse: "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egipto. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar". Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egipto. Ali ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor por meio do profeta: - Do Egipto chamei o meu filho. Então Herodes, percebendo que fora enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou matar, em Belém e em todo seu território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo de que se havia certificado com os magos. Então cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: - Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos e não quer consolação, porque eles já não existem.
Quando Herodes morreu, eis que o Anjo do Senhor se manifestou em sonho a José, no Egipto, e lhe disse: "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, pois os que buscavam tirar a vida ao menino já morreram". Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe e entrou na terra de Israel. Mas, ouvindo que Arquelau era rei da Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Tendo recebido um aviso em sonho, partiu para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.
Naqueles dias, apareceu João Baptista pregando no deserto da Judeia dizendo: "Arrependei-vos, por que o Reino dos Céus está próximo". Pois foi dele que falou o profeta Isaías, ao dizer: - Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, tornai rectas as suas veredas. João usava uma roupa de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins. Seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre. Então vieram até ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a região vizinha ao Jordão. E eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. Como visse muitos fariseus e saduceus que vinham ao baptismo, disse-lhes: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, então, fruto digno de arrependimento e não penseis que basta dizer: - Temos por pai a Abraão. Pois eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bom fruto será cortada e lançada ao fogo. Eu vos baptizo com água para o arrependimento, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De facto, eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos baptizará com o Espírito Santo e com fogo. A pá está na sua mão: vai limpar a sua eira e recolher o seu trigo no celeiro: mas, quanto à palha, vai queimá-la num fogo inextinguível.
Nesse tempo, veio Jesus da Galileia ao Jordão até João, a fim de ser baptizado por ele. Mas João tentava dissuadi-lo, dizendo: "Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti e tu vens a mim?" Jesus, porém, respondeu-lhe: "Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça". E João consentiu. Baptizado, Jesus subiu imediatamente da água e logo os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele. Ao mesmo tempo, uma voz vinda dos céus dizia: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo".
Ao ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galileia e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de Zabulon e Neftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: - Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galileia das nações! O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma luz. A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: "Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus".
Estando ele a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Segui-me e eu vos farei pescadores de homens". Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram. Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram.
Jesus percorria toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo. A sua fama espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curava. Seguiam-no multidões numerosas vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e da região além do Jordão.
Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os ensinava, dizendo: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós.
Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão na casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado. Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus. Aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos Céus.
Com efeito, eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; aquele que matar terá de responder no tribunal. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal; aquele que chamar ao seu irmão 'Cretino!' estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; aquele que lhe chamar 'Louco' terá de responder na geena de fogo. Portanto, se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta. Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: - Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração. Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado na geena. Caso a tua mão direita te leve a pecar, corta-a e lança-a para longe de ti, pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo vá para a geena. Foi dito: - Aquele que repudiar a sua mulher dê-lhe uma carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por motivo de 'fornicação', faz com que ela adultere; e aquele que se casa com a repudiada comete adultério. Ouvistes também que foi dito aos antigos: - Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor. Eu, porém, vos digo: não jureis em hipótese nenhuma; nem pelo Céu, porque é o trono de Deus, nem pela Terra, porque é o escabelo dos seus pés, nem por Jerusalém, porque é a Cidade do Grande Rei, nem jures pela tua cabeça, porque tu não tens o poder de tornar um só cabelo branco ou preto. Seja o vosso 'sim', sim, e o vosso 'não', não. O que passa disso vem do Maligno. Ouvistes que foi dito: - Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao homem mau; antes, àquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda; àquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas. Dá ao que te pede e não voltes as costas ao que te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: - Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. "Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; desse modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos. Com efeito, se amais aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos a mesma coisa? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem também os gentios a mesma coisa? Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.
Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles. De contrário, não recebereis recompensa junto ao vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola, não te ponhas a trombetear em público, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o propósito de serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.
E quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.
Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes. Portanto, orai desta maneira:
Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu Nome,
venha o teu Reino,
seja feita a tua Vontade na terra, como no céu.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores.
E não nos exponhas à tentação mas livra-nos do Maligno.
- Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos.
- Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos.
Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio como fazem os hipócritas, pois eles desfiguram o seu rosto para que seu jejum seja percebido pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para que os homens não percebam que estás jejuando, mas apenas o teu Pai, que está lá no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está o teu tesouro aí estará também teu coração.
A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho estiver são, todo o teu corpo ficará iluminado; mas se o teu olho estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro. Pois se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!
Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.
Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa? Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas? Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? E com a roupa, por que andais preocupados? Aprendei dos lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, homens fracos na fé? Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? De facto, são os gentios que estão à procura de tudo isso: o vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal.
Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco do teu olho', quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
Não deis aos cães o que é santo, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem.
Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se este lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!
Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas.
Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram.
Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes. Pelos seus frutos os conhecereis. Por acaso colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? Do mesmo modo, toda árvore boa dá bons frutos, mas a árvore má dá frutos ruins. Uma árvore boa não pode dar frutos ruins, nem uma árvore má dar bons frutos. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. É pelos seus frutos, portanto, que os reconhecereis.
Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsa-mos demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?' Então eu lhes declararei: 'Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade'. Assim, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava alicerçada na rocha. Por outro lado, todo aquele que ouve essas minhas palavras, mas não as pratica, será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande sua ruína!"
Aconteceu que ao terminar Jesus essas palavras, as multidões ficaram extasiadas com o seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade e não como os seus escribas.
Ao descer da montanha, seguiam-no multidões numerosas, quando de repente um leproso se aproximou e se prostrou diante dele, dizendo: "Senhor, se queres, tens poder para purificar-me". Ele estendeu a mão e, tocando-o disse: "Eu quero, sê purificado". E imediatamente ele ficou livre da sua lepra. Jesus lhe disse: "Cuidado, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta prescrita por Moisés, para que lhes sirva de prova".
Ao entrar em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião que lhe implorava e dizia: "Senhor, o meu criado está deitado em casa paralítico, sofrendo dores atrozes". Jesus lhe disse: "Eu irei curá-lo". Mas o centurião respondeu-lhe: "Senhor, não sou digno de receber-te sob o meu tecto; basta que digas uma só palavra e o meu criado ficará são. Com efeito, também eu estou debaixo de ordens e tenho soldados sob o meu coroando, e quando digo a um 'Vai!', ele vai, e a outro 'Vem!', ele vem; e quando digo ao meu servo: 'Faz isto', ele o faz". Ouvindo isso, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: "Em verdade vos digo que, em Israel, não achei ninguém que tivesse tal fé. Mas eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se assentarão à mesa no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacob, enquanto os filhos do Reino serão postos para fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes". Em seguida, disse ao centurião: "Vai! Como creste, assim te seja feito!" Naquela mesma hora o criado ficou são.
Entrando Jesus na casa de Pedro, viu a sogra deste, que estava de cama e com febre. Logo que lhe impôs a mão a febre deixou-a. Ela levantou-se e pôs-se a servi-lo.
Ao entardecer, trouxeram muitos endemoninhados e ele, com uma palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam enfermos, a fim de se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: - Levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças.
Vendo Jesus que estava cercado de grandes multidões, ordenou que partissem para a outra margem do lago. Então chegou-se a ele um escriba e disse: "Mestre, eu te seguirei para onde quer que vás". Ao que Jesus respondeu: "As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça". Outro dos discípulos lhe disse: "Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai". Mas Jesus lhe respondeu: "Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos".
Depois disso, entrou no barco e os seus discípulos o seguiram. E, nisto, houve no mar uma grande agitação, de modo que o barco era varrido pelas ondas. Ele, entretanto, dormia. Os discípulos então chegaram-se a ele e o despertaram, dizendo: "Senhor, salva-nos, estamos perecendo!" Disse-lhes ele: "Por que tendes medo, homens fracos na fé?" Depois, pondo-se de pé, conjurou severamente os ventos e o mar. E houve uma grande bonança. Os homens ficaram espantados e diziam: "Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem?"
Ao chegar ao outro lado, ao país dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois endemoninhados, saindo dos túmulos. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que se puseram a gritar: "Que queres de nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?" Ora, a certa distância deles havia uma manada de porcos que estava pastando. Os demónios lhe imploravam, dizendo: "Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos". Jesus lhes disse: "Ide". Eles, saindo, foram para os porcos e logo toda a manada se precipitou no mar, do alto de um precipício, e pereceu nas águas. Os que os apascentavam fugiram e, dirigindo-se à cidade, contaram tudo o que acontecera, inclusive o caso dos endemoninhados. Diante disso, a cidade inteira saiu ao encontro de Jesus. Ao vê-lo, rogaram-lhe que se retirasse do seu território.
E entrando num barco, ele atravessou e foi para a sua cidade. Aí lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. Jesus, vendo tão grande fé, disse ao paralítico: "Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são perdoados." Ao ver isso alguns dos escribas diziam consigo: "Está blasfemando". Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: "Por que tendes esses maus pensamentos em vossos corações? Com efeito, que é mais fácil dizer 'Teus pecados são perdoados', ou dizer 'Levanta-te e anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder na terra de perdoar pecados, " disse então ao paralítico: "Levanta-te, toma tua cama e vai para casa". Ele se levantou e foi para casa. Vendo o ocorrido, as multidões ficaram com medo e glorificaram a Deus, que deu tal poder aos homens.
Indo adiante, viu Jesus um homem chamado Mateus, sentado na colectoria de impostos, e disse-lhe: "Segue-me". Este, levantando-se, o seguiu.
Aconteceu que estando ele à mesa na casa, vieram muitos publicanos e pecadores e se assentaram à mesa com Jesus e seus discípulos. Os fariseus, vendo isso, perguntaram aos discípulos: "Por que come o vosso Mestre com os publicanos e os pecadores?" Ele, ao ouvir o que diziam, respondeu: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide, pois, e aprendei o que significa: - Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar justos, mas os pecadores".
Por esse tempo, vieram procurá-lo os discípulos de João com esta pergunta: "Por que razão nós e os fariseus jejuamos, enquanto os teus discípulos não jejuam?" Jesus respondeu-lhes: "Por acaso podem os amigos do noivo estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão, quando o noivo lhes será tirado; então, sim, jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo repuxa a roupa e o rasgo torna-se maior. Nem se põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, estouram os odres, o vinho se entorna e os odres ficam inutilizados. Antes, o vinho novo se põe em odres novos; assim ambos se conservam".
Enquanto Jesus lhes falava sobre essas coisas, veio um chefe e prostrou-se diante dele, dizendo: "Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe a mão e ela viverá". Levantando-se, Jesus o seguia, juntamente com os seus discípulos. Enquanto ia, certa mulher, que sofria de um fluxo de sangue fazia doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla da veste, pois dizia consigo: "Será bastante que eu toque a sua veste e ficarei curada". Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe: "Ânimo, minha filha, a tua fé te salvou". Desde aquele momento, a mulher foi salva. Jesus, ao entrar na casa do chefe e ver os flautistas e a multidão em alvoroço, disse: "Retirai-vos todos daqui, porque a menina não morreu: está dormindo". E caçoavam dele. Mas, assim que a multidão foi removida para fora, ele entrou, tomou-a pela mão e ela levantou-se. A notícia do que aconteceu espalhou-se por toda aquela região.
Partindo Jesus dali, puseram-se a segui-lo dois cegos, que gritavam e diziam: "Filho de David, tem compaixão de nós!" Quando entrou em casa, os cegos aproximaram-se dele. Jesus lhes perguntou: "Credes vós que tenho poder de fazer isso?" Eles responderam: "Sim, Senhor". Então tocou-lhes os olhos e disse: "Seja feito segundo a vossa fé". E os seus olhos se abriram. Jesus, porém, os admoestou com energia: "Cuidado, para que ninguém o saiba". Mas eles, ao saírem dali, espalharam sua fama por toda aquela região.
Logo que saíram, eis que lhe trouxeram um endemoninhado mudo. Expulso o demónio, o mudo falou. A multidão ficou admirada e pôs-se a dizer: "Nunca se viu coisa semelhante em Israel!" Os fariseus, porém, diziam: "É pelo príncipe dos demónios que ele expulsa os demónios".
Jesus percorria todas as cidades e povoados ensinando em suas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino, enquanto curava toda sorte de doenças e enfermidades. Ao ver a multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelhas sem pastor. Então disse aos seus discípulos: "A colheita é grande, mas poucos os operários! Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita".
Chamou os doze discípulos" e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades. Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, também chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu ir-mão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, o filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. Jesus enviou esses Doze com estas recomendações: "Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel. Dirigindo- vos a elas, proclamai que o Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. De graça recebestes, de graça dai. Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu sustento. Quando entrardes numa cidade ou num povoado, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do lugar. Ao entrardes na casa, saudai-a. E se for digna, desça a vossa paz sobre ela. Se não for digna, volte a vós a vossa paz. Mas se alguém não vos recebe e não dá ouvidos às vossas palavras, saí daquela casa ou daquela cidade e sacudi o pó de vossos pés. Em verdade vos digo: no Dia do Julgamento haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade. Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.
Guardai-vos dos homens: eles vos entregarão aos sinédrios e vos flagelarão em suas sinagogas. E, por causa de mim, sereis conduzidos à presença de governadores e de reis, para dar testemunho perante eles e perante as nações. Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados em saber como ou o que haveis de falar. Naquele momento vos será indicado o que deveis falar, porque não sereis vós que estareis falando, mas o Espírito de vosso Pai é que falará em vós. O irmão entregará o irmão à morte e o pai entregará o filho. Os filhos se levantarão contra os pais e os farão morrer. E sereis odiados por todos por causa do meu nome. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo. Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. E se vos perseguirem nesta, tornai a fugir para uma terceira. Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem. Não existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor. Basta que o discípulo se torne como o mestre e o servo como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao chefe da casa, quanto mais chamarão assim aos seus familiares!
Não tenhais medo deles, portanto. Pois nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado. O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia: o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena. Não se vendem dois pardais por um asse? E, no entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso Pai! Quanto a vós, até mesmo os vossos cabelos foram todos contados. Não tenhais medo, pois valeis mais do que muitos pardais. Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus.
Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares.
Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim. Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai achá-la.
Quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou. Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. E quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo. E quem der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa."
Quando Jesus acabou de dar instruções a seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e pregar nas cidades deles.
João, ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou-lhe alguns dos seus discípulos para lhe perguntarem: "És tu aquele que há-de vir, ou devemos esperar um outro?"? Jesus respondeu-lhes: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. E bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!" Ao partirem eles, começou Jesus a falar a respeito de João às multidões: "Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas finas vivem nos palácios dos reis. Então, que fostes ver? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e mais do que um profeta. É dele que está escrito: Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior do que João, o Baptista, e, no entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. Desde os dias de João Baptista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele. Porque todos os profetas bem como a Lei profetizaram até João. E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que deve vir. Quem tem ouvidos, ouça!
A quem vou comparar esta geração? Ela é como crianças sentadas nas praças, a desafiarem-se mutuamente: 'Nós vos tocámos flauta e não dançastes! Entoámos lamentações e não batestes no peito!' Com efeito, veio João, que não come nem bebe, e dizem: 'Um demónio está nele'. Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: 'Eis aí um glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores'. Mas a Sabedoria foi justificada pelas suas obras".
Então começou a verberar as cidades onde havia feito a maior parte dos seus milagres, por não se terem arrependido: "Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidónia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito se teriam arrependido, vestindo-se de cilício e cobrindo- se de cinza. Mas eu vos digo: No Dia do Julgamento haverá menos rigor para Tiro e Sidónia do que para vós. E tu, Cafarnaum, por acaso te elevarás até o céu? Antes, até ao inferno descerás. Porque se em Sodoma tivessem sido realizados os milagres que em ti se realizaram, ela teria permanecido até hoje. Mas eu vos digo que no Dia do Julgamento haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para vós".
Por esse tempo, pôs-se Jesus a dizer: "Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".
Por esse tempo, Jesus passou, num sábado, pelas plantações. Os seus discípulos, que estavam com fome, puseram-se a arrancar espigas e a comê-las. Os fariseus, vendo isso, disseram: "Olha só! Os teus discípulos a fazerem o que não é lícito fazer num sábado!" Mas ele respondeu-lhes: "Não lestes o que fez David e seus companheiros quando tiveram fome? Como entrou na Casa de Deus e como eles comeram os pães da proposição, que não era lícito comer, nem a ele, nem aos que estavam com ele, mas exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que com os seus deveres sabáticos os sacerdotes no Templo violam o sábado e ficam sem culpa? Digo-vos que aqui está algo maior do que o Templo. Se soubésseis o que significa: Misericórdia é o que eu quero e não sacrifício, não condenaríeis os que não têm culpa. Pois o Filho do Homem é senhor do sábado".
Partindo dali, entrou na sinagoga deles. Ora, ali estava um homem com a mão atrofiada. Então perguntaram-lhe, a fim de acusá-lo: "É lícito curar aos sábados?" Jesus respondeu: "Quem haverá dentre vós que, tendo uma ovelha e caindo ela numa cova em dia de sábado, não vai apanhá-la e tirá-la dali? Ora, um homem vale muito mais do que uma ovelha! Logo, é lícito fazer o bem aos sábados". Em seguida, disse ao homem: "Estende a mão". Ele a estendeu e ela ficou sã, como a outra. Então os fariseus, saindo dali, tramaram contra ele, sobre como acabariam com ele.
Ao saber disso, Jesus afastou-se dali. Muitos o seguiram, e ele os curou a todos. E os proibia severamente de torná-lo manifesto, a fim de que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: - Eis o meu Servo, a quem escolhi, o meu Amado, em quem minha alma se compraz. Porei o meu Espírito sobre ele e ele anunciará o Direito às nações. Ele não discutirá, nem clamará; nem sua voz nas ruas se ouvirá. Ele não quebrará o caniço rachado nem apagará a mecha que ainda fumega, até que conduza o direito ao triunfo. E no seu nome as nações porão sua esperança.
Então trouxeram-lhe um endemoninhado cego e mudo. E ele o curou, de modo que o mudo podia falar e ver. Toda a multidão ficou espantada e pôs-se a dizer: "Não será este o Filho de David?" Mas os fariseus, ouvindo isso, disseram: "Ele não expulsa demónios, senão por Belzebu, príncipe dos demónios". Conhecendo os seus pensamentos, Jesus lhes disse: "Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá subsistir. Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, então, poderá subsistir seu reinado? Se eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos adeptos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou a vós. Ou como pode alguém entrar na casa de um homem forte e roubar os seus pertences, se primeiro não o amarrar? Só então poderá roubar a sua casa. Quem não está a meu favor, está contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa. Por isso vos digo: todo pecado e blasfémia serão perdoados aos homens, mas a blasfémia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.
Ou declarais que a árvore é boa e o seu fruto é bom, ou declarais que a árvore é má e o seu fruto é mau. É pelo fruto que se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, se sois maus? Porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio. O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira coisas más. Eu vos digo que de toda palavra inútil, que os homens disserem, darão contas no Dia do Julgamento. Pois por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado. "
Nisto, alguns escribas e fariseus tomaram a palavra dizendo: "Mestre, queremos ver um sinal feito por ti". Ele replicou: "Uma geração má e adúltera" busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, excepto o sinal do profeta Jonas. Pois, como Jonas esteve no ventre do monstro marinho três dias e três noites, assim ficará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra. Os habitantes de Nínive se levantarão no Julgamento, juntamente com esta geração, e a condenarão, porque eles se converteram pela pregação de Jonas. Mas aqui está algo mais do que Jonas! A Rainha do Sul se levantará no Julgamento juntamente com esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Mas aqui está algo mais do que Salomão!
Quando o espírito impuro sai do homem, perambula por lugares áridos, procurando repouso, mas não o encontra. Então diz: 'Voltarei para a minha casa, de onde saí'. Chegando lá, encontra-a desocupada, varrida e arrumada. Diante disso, vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e vêm habitar aí. E, com isso, a condição final daquele homem torna-se pior do que antes. Eis o que vai acontecer a esta geração má."
Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora, procurando falar-lhe. Jesus respondeu àquele que o avisou: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E apontando para os discípulos com a mão, disse: "Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe".
Naquele dia, saindo Jesus de casa, sentou-se à beira-mar. Em torno dele reuniu-se uma grande multidão. Por isso, entrou num barco e sentou-se, enquanto a multidão estava em pé na praia. E disse-lhes muitas coisas em parábolas:
"Eis que o semeador saiu para semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho e as aves vieram e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra. Logo brotou, porque a terra era pouco profunda. Mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. Outra ainda caiu entre os espinhos. Os espinhos cresceram e a abafaram. Outra parte, finalmente, caiu em terra boa e produziu fruto, uma cem, outras sessenta e outra trinta, Quem tem ouvidos, ouça!"
Aproximando-se os discípulos, perguntaram-lhe: "Por que lhes falas em parábolas?" Jesus respondeu: "Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem, lhe será dado e lhe será dado em abundância, mas ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas: porque vêem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. É neles que se cumpre a profecia de Isaías, que diz: - Certamente haveis de ouvir, e jamais entendereis. Certamente haveis de enxergar, e jamais vereis. Porque o coração deste povo se tornou insensível. E eles ouviram de má vontade, e fecharam os olhos, para não acontecer que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e assim eu os cure. Mas felizes os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, e ouvir o que ouvis e não ouviram.
Ouvi, portanto, a parábola do semeador. Todo aquele que ouve a Palavra do Reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Esse é o que foi semeado à beira do caminho. O que foi semeado em lugares pedregosos é aquele que ouve a Palavra e a recebe imediatamente com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando surge uma tribulação ou uma perseguição por causa da Palavra, logo sucumbe. O que foi semeado entre os espinhos é aquele que ouve a Palavra, mas os cuidados do mundo e a sedução da riqueza sufocam a Palavra e ela se torna infrutífera. O que foi semeado em terra boa é aquele que ouve a Palavra e a entende. Esse dá fruto, produzindo à razão de cem, de sessenta e de trinta".
Propôs-lhes outra parábola: "O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio, Os servos do proprietário foram procurá-lo e lhe disseram: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Como então está cheio de joio?' Ao que este respondeu: 'Um inimigo é que fez isso'. Os servos perguntaram-lhe: 'Queres, então, que vamos arrancá-lo?' Ele respondeu: 'Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifeiros: 'Arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro'".
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: "O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos".
Contou-lhes outra parábola: "O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado".
Jesus falou tudo isso às multidões por parábolas. E sem parábolas nada lhes falava, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Abrirei a boca em parábolas; proclamarei coisas ocultas desde a fundação do mundo.
Então, deixando as multidões, entrou em casa. E os discípulos chegaram-se a ele, pedindo-lhe: "Explica-nos a parábola do joio no campo". Ele respondeu: "O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o Diabo. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. Da mesma forma que se junta o joio e se queima no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles apanharão do seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. O que tem ouvidos, ouça!
O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo. O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas finas. Ao achar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.
O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha de tudo. Quando está cheia, puxam-na para a praia e, sentados, juntam o que é bom em vasilhas, mas o que não presta, deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes.
Entendestes todas essas coisas?" Responderam-lhe: "Sim". Então lhes disse: "Por isso, todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que do seu tesouro tira coisas, novas e velhas".
Quando Jesus acabou de proferir essas parábolas, partiu dali e, dirigindo-se para a sua pátria, pôs-se a ensinar as pessoas que estavam na sinagoga, de tal sorte que elas se maravilhavam e diziam: "De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas?" E se escandalizavam dele. Mas Jesus lhes disse: "Não há profeta sem honra, exceto em sua pátria e em sua casa". E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.
Naquele tempo, Herodes, o tetrarca, veio a conhecer a fama de Jesus e disse aos seus servidores: "Certamente se trata de João Baptista: ele foi ressuscitado dos mortos e é por isso que os poderes operam através dele!"
Herodes, com efeito, havia mandado prender João. E o mandara prender, acorrentar e lançar no cárcere, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe, pois João lhe dizia: "Não te é permitido tê-la por mulher". Queria matá-lo, mas tinha medo da multidão, porque esta o considerava um profeta. Ora, por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou ali e agradou a Herodes. Por essa razão prometeu, sob juramento, dar-lhe qualquer coisa que pedisse. Ela, instruída por sua mãe, disse: "Dá-me, aqui num prato, a cabeça de João Baptista". O rei se entristeceu. Entretanto, por causa do seu juramento e dos convivas presentes, ordenou que lha dessem. E mandou decapitar João no cárcere. "A cabeça foi trazida num prato e entregue à moça, que a levou à sua mãe. Vieram então os discípulos de João, pegaram o seu corpo e sepultaram-no. Em seguida, foram anunciar o ocorrido a Jesus.
Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes. Chegada a tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: "O lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si". Mas Jesus lhes disse: "Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer". Ao que os discípulos responderam: "Só temos aqui cinco pães e dois peixes". Disse Jesus: "Trazei-os aqui". E, tendo mandado que as multidões se acomodassem na grama, tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu e abençoou-os. Em seguida, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram. Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Logo em seguida, forçou os discípulos a embarcar e aguardá-lo na outra margem, até que ele despedisse as multidões. Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho. O barco, porém, já estava a uma distância de muitos estádios da terra, agitado pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, ele dirigiu-se a eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: "É um fantasma!" E gritaram de medo. Mas Jesus lhes disse logo: "Tende confiança, sou eu, não tenhais medo". Pedro, interpelando-o, disse: "Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas". E Jesus respondeu: "Vem". Descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas e foi ao encontro de Jesus. Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: "Senhor, salva-me!" Jesus estendeu a mão prontamente e o segurou, repreendendo-o: "Homem fraco na fé, por que duvidaste?" Assim que subiram ao barco, o vento amainou. Os que estavam no barco prostraram-se diante dele dizendo: "Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!"
Terminada a travessia, alcançaram terra em Genesaré. Quando os habitantes daquele lugar o reconheceram, espalharam a notícia de sua chegada por toda a região. E lhe trouxeram todos os doentes, rogando-lhe tão-somente tocar a orla da sua veste. E todos os que a tocaram foram salvos.
Nesse tempo, chegaram-se a Jesus fariseus e escribas vindos de Jerusalém e disseram: "Por que os teus discípulos violam a tradição dos antigos? Pois que não lavam as mãos quando comem". Ele respondeu-lhes: "E vós, por que violais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Com efeito, Deus disse: - Honra pai e mãe e aquele que caluniar pai ou mãe certamente deve morrer. Vós, porém, dizeis: Aquele que disser ao pai ou à mãe 'Aquilo que de mim poderias receber foi consagrado a Deus', esse não está obrigado a honrar pai ou mãe. E assim invalidastes a Palavra de Deus por causa da vossa tradição. Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, quando disse: - Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Em vão me prestam culto, pois o que ensinam são mandamentos humanos. "
Em seguida, chamando para junto de si a multidão, disse-lhes: "Ouvi e entendei! "Não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isto sim o torna impuro". Então os discípulos, acercando-se dele, disseram-lhe: "Sabes que os fariseus, ao ouvirem o que disseste, ficaram escandalizados?" Ele respondeu-lhes: "Toda planta que não foi plantada por meu Pai celeste será arrancada. Deixai-os. São cegos conduzindo cegos! Ora, se um cego conduz outro cego, ambos acabarão caindo num buraco". Pedro, interpelando-o, pediu-lhe: "Explica-nos a parábola". Disse Jesus: "Nem mesmo vós tendes inteligência? Não entendeis que tudo o que entra pela boca vai para o ventre e daí para a fossa? Mas o que sai da boca procede do coração e é isto que torna o homem impuro. Com efeito, é do coração que procedem más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São essas coisas que tornam o homem impuro, mas o comer sem lavar as mãos não o torna impuro".
Jesus, partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidónia. E eis que uma mulher cananeia, daquela região, veio gritando: "Senhor, filho de David, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente endemoninhada". Ele, porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se chegaram a ele e pediram-lhe: "Despede-a, porque vem gritando atrás de nós". Jesus respondeu: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel". Mas ela, aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: "Senhor, socorre- me!" Ele tornou a responder: "Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos". Ela insistiu: "Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!" Diante disso, Jesus lhe disse: "Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!" E a partir daquele momento sua filha ficou curada.
Jesus, partindo dali, foi para as cercanias do mar da Galileia e, subindo a uma montanha, sentou-se. Logo vieram até ele numerosas multidões trazendo coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, e os puseram aos seus pés e ele os curou, de sorte que as multidões ficaram espantadas ao ver os mudos falando, os aleijados sãos, os coxos andando e os cegos a ver. E renderam glória ao Deus de Israel.
Jesus, chamando os discípulos, disse: "Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem o que comer. Não quero despedi-la em jejum, de medo que possa desfalecer pelo caminho". Os discípulos lhe disseram: "De onde tiraríamos, num deserto, tantos pães para saciar uma tal multidão?" Jesus lhes disse: "Quantos pães tendes?" Responderam: "Sete e alguns peixinhos". Então, mandando que a multidão se assentasse pelo chão, tomou os sete pães e os peixes e, depois de dar graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e os discípulos à multidão. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram sete cestos cheios dos pedaços que sobraram. Ora, os que comeram eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças. Tendo despedido as multidões, entrou no barco e foi para o território de Magadã.
Os fariseus e os saduceus vieram até ele e pediram-lhe, para pô-lo à prova, que lhes mostrasse um sinal vindo do céu. Mas Jesus lhes respondeu: "Ao entardecer dizeis: Vai fazer bom tempo, porque o céu está avermelhado; e de manhã: Hoje teremos tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. O aspecto do céu, sabeis interpretar, mas os sinais dos tempos, não podeis! Uma geração má e adúltera exige um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal de Jonas". E, deixando-os, foi-se embora.
Ao passarem para a outra margem do lago, os discípulos esqueceram-se de levar pães. Como Jesus lhes dissesse: "Cuidado, acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus!", puseram-se a reflectir entre si: "Ele disse isso porque não trouxemos pães". Jesus, percebendo, disse: "Homens fracos na fé! Por que reflectir entre vós por não terdes pães? Ainda não entendeis, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos recolhestes? Nem dos sete pães para quatro mil homens e de quantos cestos recolhestes? Como não entendeis que eu não estava falando de pães, quando vos disse: 'Acautelai- vos do fermento dos fariseus e dos saduceus'?" Então compreenderam que não dissera: Acautelai-vos do fermento do pão, mas sim do ensinamento dos fariseus e dos saduceus.
Chegando Jesus ao território de Cesareia de Filipe, perguntou aos discípulos: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" Disseram: "Uns afirmam que é João Baptista, outros que é Elias, outros, ainda, que é Jeremias ou um dos profetas". Então lhes perguntou: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro, respondendo, disse: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo". Jesus respondeu-lhe: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, "e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus". Em seguida, proibiu severamente aos discípulos de falarem a alguém que ele era o Cristo.
A partir dessa época, Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse muito por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas, e que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: "Deus não o permita, Senhor! Isso jamais te acontecerá!" Ele, porém, voltando-se para Pedro, disse: "Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!"
Então disse Jesus aos seus discípulos: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De facto, que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro mas arruinar a sua vida? Ou que poderá o homem dar em troca de sua vida? Pois o Filho do Homem há-de vir na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com o seu comportamento. Em verdade vos digo que alguns dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam o Filho do Homem vindo em seu Reino."
Seis dias depois, Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou para um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias conversando com ele. Então Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: "Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias". Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz, que saía da nuvem, disse: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o!" Os discípulos, ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão. Jesus chegou perto deles e, tocando-os, disse: "Levantai-vos e não tenhais medo". Erguendo os olhos, não viram ninguém: Jesus estava sozinho.
Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: "Não conteis a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos". Os discípulos perguntaram-lhe: "Por que razão os escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro?" Respondeu-lhes Jesus: "Certamente Elias terá de vir para restaurar tudo. Eu vos digo, porém, que Elias já veio, mas não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem irá sofrer da parte deles". Então os discípulos entenderam que se referia a João Baptista.
Ao chegarem junto da multidão, aproximou-se dele um homem que, de joelhos, lhe pedia: "Senhor, tem compaixão de meu filho, porque é lunático e sofre muito com isso. Muitas vezes cai no fogo e outras muitas na água. Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não foram capazes de curá-lo". Ao que Jesus replicou: "Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-o aqui". Jesus o conjurou severamente e o demónio saiu dele. E o menino ficou são a partir desse momento. Então os discípulos, procurando Jesus a sós, disseram: "Por que razão não pudemos expulsá-lo?" Jesus respondeu-lhes: "Por causa da fraqueza da vossa fé, pois em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível".
Estando eles reunidos na Galileia, Jesus lhes disse: "O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens e eles o matarão, mas no terceiro dia ressuscitará". E eles ficaram muito tristes.
Quando chegaram a Cafarnaum, os coletores da didracma aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: "O vosso mestre não paga a didracma?" Pedro respondeu: "Sim". Ao entrar em casa, Jesus antecipou-se-lhe, dizendo: "Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra tributos ou impostos? Dos seus filhos ou dos estranhos?" Como ele respondesse "Dos estranhos", Jesus lhe disse: "Logo, os filhos estão isentos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar e joga o anzol. O primeiro peixe que subir, segura-o e abre-lhe a boca. Acharás aí um estáter. Pega-o e entrega-o a eles por mim e por ti".
Nessa ocasião, os discípulos aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram: "Quem é o maior no Reino dos Céus?" Ele chamou perto de si uma criança, colocou-a no meio deles e disse: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus.
E aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe-me a mim. Caso alguém escandalize um destes pequeninos que crêem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem! Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou manco para a Vida do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres atirado no fogo eterno. E, se o teu olho te escandaliza, arranca-o e atira-o para longe de ti. Melhor é que entres com um olho só para a Vida do que, tendo dois olhos, seres atirado na geena de fogo. Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus vêem continuamente a face" de meu Pai que está nos céus.
E aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe-me a mim. Caso alguém escandalize um destes pequeninos que crêem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem! Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou manco para a Vida do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres atirado no fogo eterno. E, se o teu olho te escandaliza, arranca-o e atira-o para longe de ti. Melhor é que entres com um olho só para a Vida do que, tendo dois olhos, seres atirado na geena de fogo. Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus vêem continuamente a face" de meu Pai que está nos céus.
Que vos parece? Se um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele as noventa e nove nos montes e vai à procura da extraviada? Se consegue achá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram. Assim também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca.
Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. Caso não lhes dê ouvido, di-lo à Igreja. Se nem mesmo à Igreja der ouvido, trata-o como o gentio ou o publicano. Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu.
Em verdade ainda vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles."
Então Pedro chegando-se a ele, perguntou-lhe: "Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?" Jesus respondeu-lhe: "Não te digo até sete, mas até setenta e sete vezes."
Eis porque o Reino dos Céus é semelhante a um rei que resolveu acertar contas com os seus servos. Ao começar o acerto, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos. " Não tendo este com que pagar, o senhor ordenou que o vendessem, juntamente com a mulher e com os filhos e todos os seus bens, para o pagamento da dívida. O servo, porém, caiu aos seus pés e, prostrado, suplicava-lhe: 'Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo'. Diante disso, o senhor, compadecendo-se do servo, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Mas, quando saiu dali, esse servo encontrou um dos seus companheiros de servidão, que lhe devia cem denários e, agarrando-o pelo pescoço, pôs-se a sufocá-lo e a insistir: 'Paga-me o que me deves'. O companheiro, caindo aos seus pés, rogava-lhe: 'Dá-me um prazo e eu te pagarei'. Mas ele não quis ouvi-lo; antes, retirou-se e mandou lançá-lo na prisão até que pagasse o que devia. Vendo os seus companheiros de servidão o que acontecera, ficaram muito penalizados e, procurando o senhor, contaram-lhe todo o acontecido. Então o senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: 'Servo mau, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me rogaste. Não devias, também tu, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?' Assim, encolerizado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a sua dívida. Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão."
Quando Jesus terminou essas palavras, partiu da Galileia e foi para o território da Judeia, além do Jordão. Acompanharam-no grandes multidões e ali as curou. Alguns fariseus se aproximaram dele, querendo pô-lo à prova. E perguntaram: "É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que seja?" Ele respondeu: "Não lestes que desde o princípio o Criador os fez homem e mulher?, e que disse: Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne? De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar". Eles, porém, objectaram: "Por que, então, ordenou Moisés que se desse carta de divórcio e depois se repudiasse?" Ele disse: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas desde o princípio não era assim. E eu vos digo que todo aquele que repudiar a sua mulher, excepto por adultério, e desposar uma outra, comete adultério".
Os discípulos disseram-lhe: "Se é assim a condição do homem em relação à mulher, não vale a pena casar". Ele acrescentou: "Nem todos são capazes de compreender essa palavra, mas só aqueles a quem é concedido. Com efeito, há eunucos que nasceram assim, desde o ventre materno. E há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para compreender, que compreenda!"
Naquele momento, foram-lhe trazidas crianças para que lhes impusesse as mãos e fizesse uma oração. Os discípulos, porém, as repreendiam. Jesus, todavia, disse: "Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus". Em seguida impôs-lhes as mãos e partiu dali.
Aí alguém se aproximou dele e disse: "Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?" Respondeu: "Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos". Ele perguntou-lhe: "Quais?" Jesus respondeu: "Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo". Disse-lhe então o moço: "Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?" Jesus lhe respondeu: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me". O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens.
Então Jesus disse aos seus discípulos: "Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram muito espantados e disseram: "Quem poderá então salvar-se?" Jesus, fitando-os, disse: "Ao homem isso é impossível, mas a Deus tudo é possível".
Pedro, tomando então a palavra, disse: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos receber?" Disse-lhe Jesus: "Em verdade vos digo que, quando as coisas forem renovadas, e o Filho do Homem se assentar no seu trono de glória, também vós, que me seguistes, vos sentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará a vida eterna. Muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos, primeiros.
Porque o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Depois de combinar com os trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha. Tornando a sair pela hora terceira, viu outros que estavam na praça, desocupados, e disse-lhes: 'Ide, também vós para a vinha, e eu vos darei o que for justo'. Eles foram. Tornando a sair pela hora sexta e pela hora nona, fez a mesma coisa. Saindo pelo hora undécima, encontrou outros que lá estavam e disse-lhes: 'Por que ficais aí o dia inteiro desocupados? Responderam: 'Porque ninguém nos contratou'. Disse-lhes: 'Ide, também vós, para a vinha'. Chegada a tarde, disse o dono da vinha ao seu administrador: 'Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário começando pelos últimos até os primeiros'. Vindo os da hora undécima, receberam um denário cada um. E vindo os primeiros, pensaram que receberiam mais, mas receberam um denário cada um também eles. Ao receber, murmuravam contra o pai de família, dizendo: 'Estes últimos fizeram uma hora só e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor do sol'. Ele, então, disse a um deles: 'Amigo, não fui injusto contigo. Não combinaste um denário? Toma o que é teu e vai. Eu quero dar a este último o mesmo que a ti. Não tenho o direito de fazer o que eu quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau porque eu sou bom?' Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos".
Quando estavam para subir a Jerusalém, ele tomou os Doze a sós e lhes disse, enquanto caminhavam: "Eis que estamos subindo a Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado. Mas no terceiro dia ressuscitará".
Então a mãe dos filhos de Zebedeu, juntamente com os seus filhos, dirigiu-se a ele, prostrando-se, para fazer-lhe um pedido. Ele perguntou: "Que queres?" Ao que ela respondeu: "Diz que estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino". Jesus, respondendo, disse: "Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que estou para beber?" Eles responderam: "Podemos". Então lhes disse: "Sim, bebereis de meu cálice. Todavia, sentar à minha direita e à minha esquerda, não cabe a mim concedê-lo; mas é para aqueles aos quais meu Pai o preparou".
Ouvindo isso, os dez ficaram indignados com os dois irmãos. Mas Jesus, chamando-os, disse: "Sabeis que os governa dores das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo. Desse modo, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos".
Enquanto saíam de Jericó, uma grande multidão o seguiu. E eis dois cegos, sentados à beira do caminho. Ouvindo que Jesus passava, puseram-se a gritar: "Senhor, filho de David, tem compaixão de nós!" A multidão repreendeu-os para que se calassem. Mas eles gritavam ainda mais alto: "Senhor, filho de David, tem compaixão de nós!" Jesus parou, chamou-os e disse: "Que quereis que vos faça?" Responderam-lhe: "Senhor, que os nossos olhos se abram!" Movido de compaixão, Jesus tocou-lhes os olhos e, imediatamente, eles viram. E o seguiram.
Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betsabé, no monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: "Ide ao povoado aí em frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada e, com ela, um jumentinho. Soltai-a e trazei-me. E se alguém vos disser alguma coisa, respondereis que o Senhor está precisando deles, mas logo os devolverá". Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta: - Dizei à Filha de Sião: eis que o teu rei vem a ti, manso e montado em um jumento, em um jumentinho, filho de uma jumenta. Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara: trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles as suas vestes. E ele sentou-se em cima. A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores e os espalhavam pelo caminho. As multidões que o precediam e os que o seguiam gritavam: Hosana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus! E, entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se e dizia: "Quem é este?" A isso as multidões respondiam: "Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia".
Então Jesus entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. "E disse-lhes: "Está escrito: Minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, fazeis dela um covil de ladrões!" Aproximaram-se dele, no Templo, cegos e coxos, e ele os curou. Os chefes dos sacerdotes e os escribas, vendo os prodígios que fizera e as crianças que exclamavam no Templo "Hosana ao Filho de David!", ficaram indignados e lhe disseram: "Estás ouvindo o que estão a dizer?" Jesus respondeu: "Sim. Nunca lestes que: 'Da boca dos pequeninos e das criancinhas de peito preparaste um louvor para ti." Em seguida, deixando-os, saiu fora da cidade e dirigiu-se para Betânia. E ali pernoitou.
De manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E vendo uma figueira à beira do caminho, foi até ela, mas nada encontrou, senão folhas. E disse à figueira: "Nunca mais produzas fruto!" E a figueira secou no mesmo instante. Os discípulos, vendo isso, diziam, espantados: "Como assim, a figueira secou de repente?" Jesus respondeu: "Em verdade vos digo: se tiverdes fé, sem duvidar, fareis não só o que fiz com a figueira, mas até mesmo se disserdes a esta montanha: 'Ergue-te e lança-te ao mar', isso acontecerá. E tudo o que pedirdes com fé, em oração, vós o recebereis".
Vindo ele ao Templo, estava a ensinar, quando os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo se aproximaram e perguntaram-lhe: "Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te concedeu essa autoridade?" Jesus respondeu: "Também eu vou propor-vos uma só questão. Se me responderdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas: O baptismo de João, de onde era? Do Céu ou dos homens?" Eles arrazoavam entre si, dizendo: "Se respondermos 'Do Céu', ele nos dirá: 'Por que então não crestes nele?' Se respondermos 'Dos homens', temos medo da multidão, pois todos consideram João como profeta". Diante disso, responderam a Jesus: "Não sabemos". Ao que ele também respondeu: "Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas".
"Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha'. Ele respondeu: 'Não quero'; mas depois, reconsiderando a sua atitude, foi. Dirigindo-se ao segundo, disse a mesma coisa. Este respondeu: 'Eu irei, senhor'; mas não foi. Qual dos dois realizou a vontade do pai?" Responderam-lhe: "O primeiro". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas estão vos precedendo no Reino de Deus. Pois João veio a vós, num caminho de justiça, e não crestes nele. Os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, vendo isso, nem sequer reconsiderastes para crer nele.
Escutai outra parábola. Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma torre. Depois disso, arrendou-a a vinhateiros e partiu para o estrangeiro. Chegada a época de colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os servos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Enviou de novo outros servos, em maior número do que os primeiros, mas eles os trataram da mesma forma. Por fim, enviou-lhes o seu filho, imaginando: 'Irão poupar o meu filho'. Os vinhateiros, porém, vendo o filho, confabularam: 'Este é o herdeiro: vamos!, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança'. Agarrando-o, lançaram-no para fora da vinha e o mataram. Pois bem, quando vier o dono da vinha, que irá fazer com esses vinhateiros?" Responderam-lhe: "Certamente destruirá de maneira horrível esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que entregarão os frutos no tempo devido". Disse-lhes então Jesus: "Nunca lestes nas Escrituras: 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos olhos'? Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos".
Os chefes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo as suas parábolas, perceberam que se referia a eles. Procuravam prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois que elas o consideravam um profeta.
Jesus voltou a falar-lhes em parábolas e disse: "O Reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou as núpcias do seu filho. Enviou seus servos para chamar os convidados para as núpcias, mas estes não quiseram vir. Tornou a enviar outros servos, recomendando: 'Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias'. Eles, porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para o seu campo, outro para o seu negócio, e os restantes, agarrando os servos, os maltrataram e os mataram. Diante disso, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles homicidas e incendiou-lhes a cidade. Em seguida, disse aos servos: 'As núpcias estão prontas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes'. E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas. Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial e disse-lhe: 'Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?' Ele, porém, ficou calado. Então disse o rei aos que serviam: 'Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes'. Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos".
Quando eles partiram, os fariseus fizeram um conselho para tramar como apanhá-lo por alguma palavra. E lhe enviaram os seus discípulos, juntamente com os herodianos, para lhe dizerem: "Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de facto, ensinas o caminho de Deus. Não dás preferência a ninguém, pois não consideras um homem pelas aparências. Diz-nos, pois, que te parece: é lícito pagar imposto a César, ou não?" Jesus, porém, percebendo a sua malícia, disse: "Hipócritas! Por que me pondes à prova? Mostrai-me a moeda do imposto". Apresentaram-lhe um denário. Disse ele: "De quem é esta imagem e a inscrição?" Responderam: "De César". Então lhes disse: "Devolvei, pois, o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus." Ao ouvirem isso, ficaram maravilhados e, deixando-o, foram-se embora.
Naquele dia, aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem não existir ressurreição, e o interrogaram: "Mestre, Moisés disse: - Se alguém morrer sem ter filhos, o seu irmão se casará com a viúva e suscitará descendência para o seu irmão. Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro, tendo-se casado, morreu e, como não tivesse descendência, deixou a mulher para seu irmão. O mesmo aconteceu com o segundo, com o terceiro, até ao sétimo. Por fim, depois de todos eles, morreu também a mulher. Pois bem, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, pois que todos a tiveram?" Jesus respondeu-lhes: "Estais enganados, desconhecendo as Escrituras e o poder de Deus. Com efeito, na ressurreição, nem eles se casam e nem elas se dão em casamento, mas são todos como os anjos no céu. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos declarou: - Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? Ora, ele não é Deus de mortos, mas sim de vivos". Ao ouvir isso, as multidões ficaram extasiadas com o seu ensinamento.
Os fariseus, ouvindo que ele fechara a boca dos saduceus, reuniram-se em grupo e um deles — a fim de pô-lo à prova — perguntou-lhe: "Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?" Ele respondeu: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: - Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas".
Estando os fariseus reunidos, Jesus interrogou-os: "Que pensais a respeito do Cristo? Ele é filho de quem?" Responderam-lhe: "De David". Ao que Jesus lhes disse: "Como então David, falando sob inspiração, lhe chama Senhor, ao dizer: - O Senhor disse ao meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? Ora, se David lhe chama Senhor, como pode ser seu filho?" E ninguém podia responder-lhe nada. E a partir daquele dia, ninguém se atreveu a interrogá-lo.
Jesus então dirigiu-se às multidões e aos seus discípulos: "Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem. Amarram fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se dispõem a movê-los. Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos homens. Com efeito, usam largos filactérios e longas franjas. Gostam do lugar de honra nos banquetes, dos primeiros assentos nas sinagogas, de receber as saudações nas praças públicas e de que homens lhes chamem 'Rabi'. Quanto a vós, não permitais que vos chamem 'Rabi', pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis 'Pai', pois um só é o vosso Pai, o celeste. Nem permitais que vos chamem 'Guias', pois um só é o vosso guia, Cristo. Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve. Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem fazê-lo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito, mas, quando conseguis conquistá-lo, vós o tornais duas vezes mais digno da geena do que vós! Ai de vós, condutores cegos, que dizeis: 'Se alguém jurar pelo santuário, o seu juramento não o obriga, mas se jurar pelo ouro do santuário, o seu juramento o obriga'. Insensatos e cegos! Que é maior, o ouro ou o santuário que santifica o ouro? Dizeis mais: 'Se alguém jurar pelo altar, não é nada, mas se jurar pela oferta que está sobre o altar, fica obrigado'. Cegos! Que é maior, a oferta ou o altar que santifica a oferta? Pois aquele que jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que nele está. E aquele que jura pelo santuário, jura por ele e por aquele que nele habita. E, por fim, aquele que jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas. Condutores cegos, que coais o mosquito e tragais o camelo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estais cheios de rapina e de intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo para que também o exterior fique limpo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que edificais os túmulos dos profetas e enfeitais os sepulcros dos justos e dizeis: 'Se estivéssemos vivos nos dias dos nossos pais, não teríamos sido cúmplices seus no derramar do sangue dos profetas'. Com isso testificais, contra vós, que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Completai, pois, a medida dos vossos pais!
Serpentes! Raça de víboras! Como haveis de escapar ao julgamento da geena? Por isso vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis, a outros açoitareis em vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade. E assim cairá sobre vós todo o sangue dos justos derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo: tudo isso sobrevirá a esta geração!
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das suas asas, e não o quiseste! Eis que a vossa casa vos ficará abandonada pois eu vos digo: não me vereis, desde agora, até o dia em que direis: - Bendito aquele que vem em nome do Senhor!"
Saindo do Templo, Jesus caminhava e os discípulos se aproximaram dele para mostrar-lhe as construções do Templo. Ele disse-lhes: "Estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo: não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja demolida". Estando ele sentado no Monte das Oliveiras, os discípulos se aproximaram dele, a sós, dizendo: "Diz-nos quando vai ser isso, e qual o sinal da tua Vinda e da consumação dos tempos".
Jesus respondeu: "Atenção para que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: 'O Cristo sou eu', e enganarão a muitos. Haveis de ouvir sobre guerras e rumores de guerras. Cuidado para não vos alarmardes. É preciso que aconteçam, mas ainda não é o fim. Pois se levantará nação contra nação e reino contra reino. E haverá fome e terramotos em todos os lugares. Tudo isso será o princípio das dores. "Nesse tempo, vos entregarão à tribulação e vos matarão, e sereis odiados de todos os povos por causa do meu nome. E então muitos ficarão escandalizados e se entregarão mutuamente e se odiarão uns aos outros. E surgirão falsos profetas em grande número e enganarão a muitos. E pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo. E este Evangelho do Reino será proclamado no mundo inteiro, como testemunho para todas as nações. E então virá o Fim.
Quando, portanto, virdes a abominação da desolação, de que fala o profeta Daniel, instalada no lugar santo, então, os que estiverem na Judeia fujam para as montanhas, aquele que estiver no terraço, não desça para apanhar as coisas da sua casa, e aquele que estiver no campo não volte atrás para apanhar a sua veste! Ai daquelas que estiverem grávidas e estiverem amamentando naqueles dias! Pedi para que a vossa fuga não aconteça no inverno ou num sábado. Pois naquele tempo haverá uma grande tribulação, tal como não houve desde o princípio do mundo até agora, nem tornará a haver jamais. E se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma vida se salvaria. Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados. Então, se alguém vos disser: 'Olha o Cristo aqui!' ou 'ali!', não creiais. Pois hão-de surgir falsos Cristos e falsos profetas, que apresentarão grandes sinais e prodígios de modo a enganar, se possível, até mesmo os eleitos. Eis que eu vo-lo predisse.
Se, portanto, vos disserem: 'Ei-lo no deserto', não vades até lá; 'Ei-lo em lugares retirados', não creiais. Pois assim como o relâmpago parte do oriente e brilha até ao poente, assim será a vinda do Filho do Homem. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres.
Logo após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória. Ele enviará os seus anjos que, ao som da grande trombeta, reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade até a outra extremidade do céu.
Aprendei da figueira esta parábola: quando o seu ramo se torna tenro e as suas folhas começam a brotar, sabeis que o verão está próximo. Da mesma forma também vós, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que tudo isso aconteça. Passarão o céu e a terra. Minhas palavras, porém, não passarão. Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai.
Como nos dias de Noé, será a Vinda do Filho do Homem. Com efeito, como naqueles dias que precederam o dilúvio, estavam eles comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam nada até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na Vinda do Filho do Homem. E estarão dois homens no campo: um será tomado e o outro deixado. Estarão duas mulheres moendo no moinho: uma será tomada e a outra deixada. Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que vigília viria o ladrão, vigiaria e não permitiria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós, ficai preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais.
Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o senhor constituiu sobre a criadagem, para dar-lhe o alimento em tempo oportuno? Feliz daquele servo que o Senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo, ele o constituirá sobre todos os seus bens. Se aquele mau servo disser em seu coração: 'Meu senhor tarda', e começar a espancar os seus companheiros, a comer e beber em companhia dos bebedores, o senhor daquele servo virá em dia imprevisto e hora ignorada. Ele o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.
Então o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco eram insensatas e cinco, prudentes. As insensatas, ao pegarem as lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes levaram vasos de azeite com suas lâmpadas. Atrasando o noivo, todas elas acabaram cochilando e dormindo. Quando foi aí pela meia-noite, ouviu-se um grito: 'O noivo vem aí! Saí ao seu encontro!' Todas as virgens se levantaram, então, e trataram de aprontar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: 'Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando'. As prudentes responderam: 'De modo algum, o azeite poderia não bastar para nós e para vós. Ide antes aos que vendem e comprai para vós'. Enquanto foram comprar o azeite, o noivo chegou e as que estavam prontas entraram com ele para o banquete de núpcias. E fechou-se a porta. "Finalmente, chegaram as outras virgens, dizendo: 'Senhor, senhor, abre-nos!' Mas ele respondeu: 'Em verdade vos digo: não vos conheço!' Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora.
Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só tomou-o e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: 'Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei'. Disse-lhe o senhor: 'Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!'" Chegando também o dos dois talentos, disse: 'Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei'. Disse-lhe o senhor: 'Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!' Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: 'Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu'. A isso respondeu-lhe o senhor: 'Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!'
Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória. E serão reunidas em sua presença todas as nações e ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me'. Então os justos lhe responderão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentámos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e te fomos ver?' Ao que lhes responderá o rei: 'Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes'. Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso, e não me visitastes'. Então, também eles responderão: 'Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?' E ele responderá com estas palavras: 'Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer'. E irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna".
Quando Jesus terminou essas palavras todas, disse aos discípulos: "Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado". Então os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo congregaram-se no pátio do Sumo-sacerdote, que se chamava Caifás, e decidiram juntos que prenderiam a Jesus por um ardil e o matariam. Diziam, contudo: "Não durante a festa, para não haver tumulto no meio do povo".
Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher trazendo um frasco de alabastro de perfume precioso e pôs-se a derramá-lo sobre a cabeça de Jesus, enquanto ele estava à mesa. Ao verem isso, os discípulos ficaram indignados e diziam: "A troco de quê esse desperdício? Pois isso poderia ser vendido bem caro e distribuído aos pobres". Mas Jesus, ao perceber essas palavras, disse-lhes: "Por que aborreceis a mulher? Ela, de fato, praticou uma boa ação para comigo. Na verdade, sempre tereis os pobres convosco, mas a mim nem sempre tereis. Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para me sepultar. Em verdade vos digo que, onde quer que venha a ser proclamado o Evangelho, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória".
Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi até os chefes dos sacerdotes e disse: "O que me dareis se eu o entregar?" Fixaram-lhe, então, a quantia de trinta moedas de prata. E a partir disso, ele procurava uma oportunidade para o entregar.
No primeiro dia dos ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus dizendo: "Onde queres que nos preparemos para comer a Páscoa?" Ele respondeu: "Ide à cidade, à casa de alguém e dizei-lhe: 'O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa irei celebrar a Páscoa com meus discípulos'". Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa.
Ao cair da tarde, ele pôs-se a mesa com os Doze e, enquanto comiam, disse-lhes: "Em verdade vos digo que um de vós me entregará". Eles, muito entristecidos, puseram-se um por um a perguntar-lhe: "Acaso sou eu, Senhor?" Ele respondeu: "O que comigo põe a mão no prato, esse me entregará. Com efeito, o Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! Melhor seria para aquele homem não ter nascido!" Então Judas, seu traidor, perguntou: "Porventura sou eu, Rabi?" Jesus respondeu-lhe: "Tu o dizes".
Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: "Tomai e comei, isto é o meu corpo". Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: "Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados. Eu vos digo: desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino do meu Pai".
Depois de terem cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras. Jesus disse-lhes então: "Essa noite todos vós vos escandalizareis por minha causa, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mas, depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galileia". Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: "Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei". Jesus declarou: "Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes!" Ao que Pedro disse: "Mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei". O mesmo disseram todos os discípulos.
Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsémani e disse aos discípulos: "Sentai-vos aí enquanto vou até ali para orar". Levando Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: "Minha alma está triste até à morte. Permanecei aqui e vigiai comigo". E, indo um pouco adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: "Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres". E, ao voltar para junto dos discípulos, encontrou-os dormindo. E diz a Pedro: "Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca". Afastando-se de novo pela segunda vez, orou: "Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, mas seja feita a tua vontade!" E ao voltar de novo, encontrou-os dormindo, pois os seus olhos estavam pesados de sono. Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras. Vem, então, para junto dos discípulos e lhes diz: "Dormi agora e repousai: eis que a hora está chegando e o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que meu traidor está chegando".
E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: "É aquele que eu beijar; prendei-o". E logo, aproximando-se de Jesus, disse: "Salve, Rabi!" e o beijou. Jesus respondeu-lhe: "Amigo, para que estás aqui?" Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, desembainhou a espada e, ferindo o servo do Sumo-sacerdote, decepou-lhe a orelha. Mas Jesus disse-lhe: "Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?" E naquela hora, disse Jesus às multidões: "Como a um ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu me sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes". Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.
Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo-sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos. Pedro seguiu-o de longe até o pátio do Sumo-sacerdote e, penetrando no interior, sentou-se com os servidores para ver o fim. Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, se apresentaram duas que afirmaram: "Este homem declarou: Posso destruir o Templo de Deus e edificá-lo depois de três dias". Levantando-se então o Sumo-sacerdote, disse-lhe: "Nada respondes? O que testemunham estes contra ti?" Jesus, porém, ficou calado. E o Sumo-sacerdote lhe disse: "Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus". Jesus respondeu: "Tu o disseste. Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.". O Sumo-sacerdote então rasgou suas vestes, dizendo: "Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Vede: vós ouvistes neste instante a blasfémia. Que pensais?" Eles responderam: "É réu de morte". E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam pauladas, dizendo: "Faz-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?"
Pedro estava sentado fora, no pátio. Aproximou- se dele uma criada, dizendo: "Também tu estavas com Jesus, o Galileu!" Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: "Não sei o que dizes. "Saindo para o pórtico, uma outra viu-o e disse aos que ali estavam: "Ele estava com Jesus, o Nazareno". De novo ele negou, jurando que não conhecia o homem. Pouco depois, os que lá estavam disseram a Pedro: "De facto, também tu és um deles; pois o teu dialecto te denuncia". Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: "Não conheço o homem!" E imediatamente o galo cantou. E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus dissera: "Antes que o galo cante, três vezes me negarás". Saindo dali, chorou amargamente.
Chegada a manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, a fim de levá-lo à morte. Assim, amarrando-o, levaram-no e entregaram-no a Pilatos, o governador.
Então Judas, que o entregara, vendo que Jesus fora condenado, sentiu remorsos e veio devolver aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo: "Pequei, entregando um sangue inocente". Mas estes responderam: "Que temos nós com isso? O problema é teu". Ele, atirando as moedas no Templo, retirou-se e foi enforcar-se. Os chefes dos sacerdotes, tomando as moedas, disseram: "Não é lícito depositá-las no tesouro do Templo, porque se trata de preço de sangue". Assim, depois de deliberarem em conselho, compraram com elas o campo do Oleiro para o sepultamento dos estrangeiros. Eis porque até hoje aquele campo se chama "Campo de Sangue". Com isso se cumpriu o oráculo do profeta Jeremias: - E tomaram as trinta moedas de prata, o preço do Precioso, daquele que os filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenara.
Jesus foi posto perante o governador e o governador interrogou-o: "És tu o rei dos judeus?" Jesus declarou: "Tu o dizes". E ao ser acusado pelos chefes dos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Então lhe disse Pilatos: "Não estás ouvindo de quanta coisa te acusam?" Mas ele não lhe respondeu sequer uma palavra, de tal sorte que o governador ficou muito impressionado. Por ocasião da Festa, era costume o governador soltar um preso que a multidão desejasse. Nessa ocasião, tinham eles um preso famoso, chamado Barrabás. Como estivessem reunidos, Pilatos lhes disse: "Quem quereis que vos solte, Barrabás ou Jesus, que chamam de Cristo?" Ele sabia, com efeito, que eles o haviam entregue por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: "Não te envolvas com esse justo, porque muito sofri hoje em sonho por causa dele". Os chefes dos sacerdotes e os anciãos, porém, persuadiram as multidões a que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus perecer. O governador respondeu-lhes: "Qual dos dois quereis que vos solte?" Disseram: "Barrabás". Pilatos perguntou: "Que farei de Jesus, que chamam de Cristo?" Todos responderam: "Seja crucificado!" Tornou a dizer-lhes: "Mas que mal ele fez?" Eles, porém, gritavam com mais veemência: "Seja crucificado!" Vendo Pilatos que nada conseguia, mas, ao contrário, a desordem aumentava, pegou água e, lavando as mãos na presença da multidão, disse: "Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa". A isso todo o povo respondeu: "O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos". Então soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de açoitá-lo, entregou-o para que fosse crucificado.
Em seguida, os soldados do governador, levando Jesus para o Pretório, reuniram contra ele toda a corte. Despiram-no e puseram-lhe uma capa escarlate. Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e um caniço na mão direita. E, ajoelhando-se diante dele, diziam-lhe, zombando: "Salve, rei dos judeus! "E cuspindo nele, tomaram o caniço e batiam-lhe na cabeça. Depois de caçoarem dele, despiram-lhe a capa escarlate e tornaram a vesti-lo com as suas próprias vestes, e levaram-no para o crucificar.
Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz. Chegando a um lugar chamado Gólgota, isto é, lugar que chamavam de Caveira, deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas não quis beber. E após crucificá-lo, repartiram entre si as suas vestes, lançando a sorte. E, sentando-se, ali montavam-lhe guarda. E colocaram acima da sua cabeça, por escrito, o motivo da sua condenação: "Este é Jesus, o Rei dos judeus". Com ele foram crucificados dois ladrões, um à direita, outro à esquerda.
Os transeuntes injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: "Tu que destróis o Templo e em três dias o edificas, salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!" Do mesmo modo, também os chefes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e anciãos, escarneciam dele: "A outros salvou, a si mesmo não se pode salvar! Rei de Israel que é, que desça agora da cruz e creremos nele! Confiou em Deus: pois que o livre agora, se é que se interessa por ele! Já que ele disse: Eu sou filho de Deus". E até os ladrões, que foram crucificados junto com ele, o insultavam.
Desde a hora sexta até a hora nona, houve treva em toda a terra. Lá pela hora nona, Jesus deu um grande grito: "Eli, Eli, lemá sabachtáni?", isto é: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" Alguns dos que tinham ficado ali, ouvindo-o, disseram entre si: "Está a chamar por Elias!" Imediatamente um deles saiu correndo, pegou uma esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa vara, dava-lhe de beber. Mas os outros diziam: "Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo!" Jesus, porém, tornando a dar um grande grito, entregou o espírito. Nisto, o véu do Santuário rasgou-se em duas partes, de cima a baixo, a terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram. E, saindo dos túmulos após a ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e foram vistos por muitos. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o terramoto e tudo mais que estava acontecendo, ficaram muito amedrontados e disseram: "De facto, este era filho de Deus!" Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus desde a Galileia, servindo-o. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
Chegada a tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, o qual também se tornara discípulo de Jesus. E dirigindo- se a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe fosse entregue. José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e o pôs em seu túmulo novo, que talhara na rocha. Em seguida rolando uma grande pedra para a entrada do túmulo, retirou-se. Ora, Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas em frente ao sepulcro.
No dia seguinte, um dia depois da Preparação, os chefes dos sacerdotes e os fariseus, reunidos junto a Pilatos, diziam: "Senhor, lembramo-nos de que aquele impostor disse, quando ainda vivo: 'Depois de três dias ressuscitarei!' Ordena, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia, para que os discípulos não venham roubá-lo e depois digam ao povo: 'Ele ressuscitou dos mortos!' e a última impostura será pior do que a primeira". Pilatos respondeu: "Tendes uma guarda; ide, guardai o sepulcro, como entendeis". E, saindo, eles puseram em segurança o sepulcro, selando a pedra e montando guarda.
Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria vieram ver o sepulcro. E eis que houve um grande terramoto: pois o Anjo do Senhor, descendo do céu e aproximando-se, removeu a pedra e sentou-se sobre ela. O seu aspecto era como o do relâmpago e a sua roupa, alva como a neve. Os guardas tremeram de medo dele e ficaram como mortos. Mas o Anjo, dirigindo-se às mulheres, disse-lhes: "Não temais! Sei que estais procurando Jesus, o crucificado. Ele não está aqui, pois ressuscitou, conforme havia dito. Vinde ver o lugar onde ele jazia. Ide já contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que ele vos precede na Galileia. Ali o vereis. Vede bem, eu vo-lo disse!" Elas, partindo depressa do túmulo, com medo e grande alegria, correram a anunciá-lo aos seus discípulos.
E eis que Jesus veio ao seu encontro e lhes disse: "Alegrai-vos". Elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, prostrando-se diante dele. Então Jesus disse: "Não temais! Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia; lá me verão".
Enquanto elas iam, eis que alguns da guarda foram à cidade e anunciaram aos chefes dos sacerdotes tudo o que acontecera. Estes, depois de se reunirem com os anciãos e deliberarem com eles, deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro, recomendando: "Dizei que os seus discípulos vieram de noite, enquanto dormíeis, e o roubaram. Se isso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e vos deixaremos sem complicação". Eles pegaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. E espalhou-se essa história entre os judeus até ao dia de hoje.
Os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes determinara. Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram. Jesus, aproximando-se deles, falou: "Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!"
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JOSÉ MARIA ALVES
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